Pelo fim do sofrimento, união contra o inimigo comum
A França encontra-se novamente em luta. Se há alguns meses os coletes amarelos vinham causando ebulição na sociedade francesa através de seus protestos, agora uma Greve Geral, iniciada no dia 05/12/2019, toma o tom da revolta contra as políticas neoliberais que vem sendo adotadas no país, notadamente a Reforma da Previdência francesa.
Uma das classes que mais serão afetadas por essa reforma, os professores das escolas públicas, tiveram seu engajamento na greve geral ainda mais fortalecido após o suicídio de Christine Renon, diretora de uma escola francesa que, em um ato desesperado, mas que foi também um grito de protesto contra a situação estafante, desumana na qual se encontrava, atentou contra a própria vida. Antes de se suicidar, ela enviou uma carta explicando seus motivos a vários diretores de escola do mesmo setor, às instâncias de inspeção do Ministério da Educação e aos sindicatos. Reivindicava que sua atitude era uma ato político, a última atitude de alguém em uma situação de profundo desespero perante uma realidade que não conseguia modificar.
Em três páginas de desabafo e nas quais descreve sua rotina absolutamente estafante, autômata e burocrata, Christine Renon descreve o acúmulo cada vez maior de deveres a serem cumpridos com cada vez menos recursos materiais e humanos. Seu trabalho assim passa a ser destituído de prazer e é encarado como rotina obrigatória e repleta de obrigações mecânicas, as quais na maior parte das vezes são absolutamente sem sentido. São relatórios, estatísticas, atividades que não revelariam lógica alguma e nem qualquer significado prático e que, em suas palavras, seriam “tarefas cronofágicas e o acúmulo de todos estes ‘pequenos nadas’ que ocupam 200 % de nosso dia”. Esta situação de trabalho excessivo ocasionada pela precarização de recursos disponíveis ocasionou a Christine Renon uma tal situação de esgotamento mental, de exaustão e de fadiga que a levou a cometer suicídio como forma de protesto.
Quantos mais morrerão pelo sistema econômico atual que assola nossa sociedade contemporânea? Quantos mais continuarão agonizando pela face cruel do capitalismo que prega o lucro a qualquer custo? Quantos mais continuarão em sofrimento devido a uma lógica de mercado que esquece que seres humanos não são robôs e que explora sua força de trabalho ao máximo, possibilitando ao mesmo pouca ou nenhuma satisfação no trabalho?
A França se ergue em um basta, assim como países da América do Sul já gritaram NÃO ao neoliberalismo voraz, sangrento e cruel que assola seus países! A Greve Geral que ocorre na França é mais um dos muitos chamados para que também nós, brasileiros explorados, nos unamos a um coro que conclama a união contra o maior inimigo que a humanidade já conheceu: o grande capital internacional, o qual nos enxerga apenas como mera massa de manobra. Parafraseando dois grandes homens, Marx e Chaplin, não somos máquinas, somos homens e mulheres, seres humanos, e exigimos sermos tratados como tal! Uni-vos!
Marcos Celso Prado Santana
EAS – Psicólogo e Suplente da Diretoria do Sindicato Sindsasc